A violência contra a pessoa idosa é crescente em Mato Grosso do Sul e, segundo o presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da OAB-MS, advogado Nelson Alfonso, o Estado ainda está aquém do necessário para proteger essa população.
Em entrevista ao Microfone Aberto, da Massa FM Campo Grande, ele cobrou do poder público uma resposta mais contundente à escalada de agressões — especialmente a criação de uma delegacia especializada para atendimento a idosos.
“Até quando o nosso governo vai ignorar esse diagnóstico e não fortalecer as redes de atenção? Nós não temos uma delegacia da Polícia Civil especializada para pessoas idosas”, afirmou Alfonso, ressaltando que outros estados, com índices menores de violência, já implantaram esse tipo de estrutura.
Violências mais comuns e cenário alarmante
Segundo o advogado, os casos mais frequentes em Mato Grosso do Sul envolvem negligência, abandono, violência psicológica e financeira. E ele deixa claro: o problema não é exclusivo da região, mas aqui se destaca negativamente.
“Mato Grosso do Sul está nesse cenário nacional de alta violência contra a pessoa idosa. Os números aumentaram desde a pandemia e continuam subnotificados”, disse.
Ele lembra que mais de 90% dos agressores são familiares, o que dificulta as denúncias por parte das vítimas, muitas vezes por vergonha ou medo de expor filhos e netos.
Sinais de alerta
Para Alfonso, a atenção da vizinhança, amigos e comunidade religiosa pode ser decisiva para romper o ciclo de violência. Entre os sinais mais comuns, ele destaca o isolamento repentino da pessoa idosa: parar de frequentar a igreja, o mercado, a farmácia ou mesmo de ser visto nas calçadas do bairro.
“Essa ausência do convívio é um indício claro de manipulação por parte do agressor. Quando a pessoa idosa começa a sumir dos espaços que frequentava, acenda o alerta”, orienta.
Espaços religiosos, segundo ele, têm sido canais importantes de escuta e denúncia. Em um caso citado por Alfonso, um casal vivia em cárcere privado e só era autorizado a sair de casa para a missa dominical.
Violência patrimonial e financeira
O presidente da comissão alerta ainda para as formas de violência menos visíveis, mas igualmente danosas, como o controle do cartão de aposentadoria, apropriação de bens e retenção de salários.
“Tem gente vivendo com um salário mínimo que é tomado por um familiar. E também temos servidores públicos aposentados, com renda de 15 ou 20 mil reais, que sofrem o mesmo tipo de abuso”, denunciou.
A subnotificação, segundo ele, torna o problema ainda mais difícil de enfrentar. “Muitos idosos não querem denunciar seus familiares. Mas essa omissão pode custar a própria vida”, advertiu.
Falta de acolhimento institucional
Outro ponto levantado por Alfonso é a ausência de instituições públicas de longa permanência ou centros de atendimento diurno para idosos que não têm com quem ficar durante o dia.
Ele criticou a falta de estrutura municipal e estadual para lidar com esse tipo de demanda.
“Campo Grande tem mais de 140 mil pessoas idosas. E não temos um espaço público que acolha essa população de forma permanente ou mesmo temporária”, afirmou.
Dignidade como base da política pública
Para encerrar, Afonso reforçou que a pessoa idosa não é uma categoria à parte na sociedade, mas alguém que precisa de atenção proporcional à sua vulnerabilidade. E defendeu que políticas públicas tenham como base a dignidade.
“Estamos falando de pessoas que aram 30, 40 anos trabalhando, contribuindo. E hoje, muitas delas não têm sequer o direito de viver com dignidade. Isso leva à depressão e, em muitos casos, ao suicídio”, lamentou.
Confira a entrevista na íntegra: