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Homens negros são maiores vítimas de homicídios por arma de fogo em MS

Estudo do Instituto Sou da Paz relevou que na Capital o número de homicídios de homens negros por arma de fogo é duas vezes maior do que o de não negros

Homens negros são as maiores vítimas de mortes por armas de fogo | Foto: Raphael Alves/TJAM
Homens negros são as maiores vítimas de mortes por armas de fogo | Foto: Raphael Alves/TJAM

Os homens negros são as maiores vítimas de homicídios por arma de fogo em Mato Grosso do Sul, segundo pesquisa do Instituto Sou da Paz. A média é de 23,7 casos a cada grupo de 100 mil homens. São oito casos a mais do que contra homens não negros, que têm média de 15,3 mortes a cada grupo.

Segundo o sociólogo Daniel Miranda, isso se deve a alguns fatores de risco e às situações de vulnerabilidade vividas por homens negros. “A gente sabe que a maioria dos negros no Brasil é pobre e a maioria dos pobres no Brasil é negra, então isso aumenta, é claro, a exposição dessas pessoas ao aliciamento por parte do crime organizado. E o crime organizado é um dos principais fatores de homicídio no Brasil”.

“A ação policial geralmente é mais letal, estatisticamente falando, quando você trata de pessoas negras do que de pessoas brancas. Além disso, homens negros, pessoas negras de modo geral, incluindo os homens, têm o ao sistema de saúde mais precário. O o mais precário ao sistema de saúde tem uma cobertura menor e assim por diante”, completou o sociólogo.

Taxa de mortes

O índice (23,7) ainda é menor que o de outros estados brasileiros, como o vizinho Mato Grosso, que tem 39,9 casos a cada grupo de 100 mil homens, ou o Amapá, que tem a maior proporção do Brasil, com taxa de 97,1 mortes de homens negros por arma de fogo a cada grupo.

Essa diferença, porém, pode estar ligada à falta de conhecimento das pessoas sobre a própria origem, segundo o desembargador e professor de direito penal Ruy Celso.

“Mato Grosso do Sul tem um número muito pequeno de pessoas da raça negra. Na última estatística, que foi feita em 2022, apenas 6,5% das pessoas se declararam da raça negra. Nós temos um número expressivo de pessoas que se declaram da raça parda, outras raças que se confundem, mas não o negro especificamente, que faz parte dessa pesquisa”.

Em Campo Grande, a taxa de homicídios de homens negros por armas de fogo é duas vezes maior do que a de homens não negros. Na Capital, são 31,4 mortes de homens negros a cada grupo de 100 mil. Não negros representam 14,6 vítimas a cada 100 mil homens.

Fronteiras

Mas a desigualdade não existe apenas na Capital. Segundo o desembargador, as fronteiras do estado também são pontos que demandam atenção.

“As disputas de poder em relação ao tráfico de drogas e ao contrabando levam à letalidade. Isso acaba atingindo a raça negra, pois essas pessoas são acolhidas pela criminalidade, por serem classes vulneráveis e quase não terem alternativas”.