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IMPACTO CLIMÁTICO

Estudo revela que crianças pequenas estão mais vulneráveis aos efeitos da crise climática no Brasil

Pesquisa aponta aumento expressivo de eventos extremos e alerta para riscos no desenvolvimento infantil, incluindo regiões como o Pantanal

Primeira infância é a fase que compreende crianças de 0 a 6 anos - Foto: Divulgação/TV Brasil
Primeira infância é a fase que compreende crianças de 0 a 6 anos - Foto: Divulgação/TV Brasil

As crianças brasileiras nascidas a partir de 2020 devem enfrentar uma realidade climática muito mais severa que a vivida por gerações anteriores. Um relatório publicado nesta quinta-feira (5) mostra que essas crianças terão, em média, 6,8 vezes mais exposição a ondas de calor e quase três vezes mais contato com inundações e perdas de safra ao longo da vida do que aquelas nascidas em 1960.

O estudo, intitulado A Primeira Infância no Centro da Crise Climática, reúne dados da Fundação Oswaldo Cruz e de instituições como Harvard e USP. A conclusão é direta: a primeira infância — fase que compreende crianças de 0 a 6 anos — está no centro da vulnerabilidade gerada pelos eventos extremos que se intensificam no país.

Desigualdade e impactos no desenvolvimento

Com 18,1 milhões de brasileiros nessa faixa etária, o relatório alerta que a crise climática afeta diretamente a saúde, nutrição, segurança e aprendizado de crianças pequenas. A exposição constante a calor extremo, poluição do ar e instabilidade ambiental compromete o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional de maneira duradoura.

“Se nenhuma medida for tomada, essa geração crescerá mais doente, com mais dificuldade de aprender, maior instabilidade econômica e maior risco de deslocamentos forçados”, destaca a pesquisadora Márcia Castro, da Universidade Harvard.

Insegurança alimentar e deslocamentos

Mais de um terço das crianças brasileiras até 4 anos vive em situação de insegurança alimentar. Entre elas, 5% apresentam desnutrição crônica. Esse grupo também é o mais afetado quando há desastres naturais.

Um exemplo recente citado no estudo é a tragédia no Rio Grande do Sul, que em 2024 forçou o deslocamento de 580 mil pessoas e mais de 3.900 crianças pequenas.

Entre 2013 e 2023, mais de 4 milhões de brasileiros foram desalojados por eventos extremos. E, segundo os autores, regiões como o Pantanal sul-mato-grossense também já sentem os reflexos desse agravamento, com aumento de queimadas e alterações no ciclo das chuvas, o que pode colocar crianças locais em risco crescente nos próximos anos.

Educação e ausência de políticas preventivas

Em 2024, quase 1,2 milhão de crianças e adolescentes foram afetados pela suspensão de aulas devido a eventos climáticos extremos. O Rio Grande do Sul sozinho perdeu mais de 55 mil horas-aula, agravando ainda mais os prejuízos educacionais em uma fase decisiva da formação intelectual.

Recomendações do estudo

O relatório propõe a adoção de políticas públicas que priorizem a proteção da primeira infância frente à crise climática. Entre as sugestões estão:

  • Criação de zonas de resfriamento em creches e escolas com sombra e áreas verdes.
  • Protocolos para resposta a desastres com foco em crianças.
  • Fortalecimento da atenção primária à saúde e o à água potável e saneamento.
  • Incentivos à segurança alimentar e ações de mitigação em áreas de risco.